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Ando desesperada por fazer umas frases bonitas que eu sinta que são suficientemente dignas de ti, de nós.
Desespero apenas porque sinto que as mereces agora, afinal de contas tenho páginas e páginas de palavras de longa data, todas inteiramente tuas.
Se não te disser tudo hoje, digo amanha, depois, depois ou depois, sabendo que, apesar de tudo, o tempo sempre foi nosso aliado, mesmo neste carrossel de esperanças que criaste em mim desde o início.
Confia em mim, confia em ti.
O grande primeiro, é grande para sempre.
Sabes ? Ainda me lembro daquela noite, sentados naquela espécie de banquinho almofadado encostado à parede. Ainda me lembro daquela mesinha pequenina de madeira, repleta de copos grandes e vazios, todos de duas palhinhas tortas e mordiscadas. Ainda me está tão presente como se tivesse sido ontem, os meus dedos e o verniz vermelho na tua pele, como se conseguisse sentir o que emanava cada vez que saia mais uma, pensada ou não, frase de engate. Engate barato esse, é certo, mas eu sorria-te e repetia mil e uma vezes na minha cabeça que uma vez dentro, uma vez nos teus braços não haveria maneira nem iria conseguir arranjar uma desculpa pressionada para te deixar pendurado, como deveria ter feito. Ainda me lembro do meu colar à volta do teu pescoço, e de como eu o puxava só para ter a certeza que ainda queria os teus lábios junto dos meus, mesmo sem compromisso de que estariam no dia a seguir ou no outro, ou no outro...
Lembro-me tão bem como se estivesse a acontecer agora, falares de mim como tendo poderes ou como sendo um ser místico vindo de outro mundo que não o teu, que te roubou a alma, que te impossibilitava os passos, que te limitava inconscientemente os movimentos, que te tirava de um passado confuso e que  criava um esfera em teu torno, coexistindo contigo até ao fim da tua vida. Tendo sempre a maior paciência para as tuas impulsões, a maior compreensão para as tuas indecisões e a maior calma no fingimento dos teus ataques saudosos. Já não se contavam aqueles grandes copos vazios saidos daquela mesinha, e chegava, por último, um copo, alto e comprido, vermelho e de champanhe dentro, enrolas-te o teu braço no meu, e disseste-me ao ouvido " este é por nós, que isto não fique por aqui ", eu apenas sorria. Até que me olhaste nos olhos e disseste apaixonadamente " eu gosto de ti, quero estar contigo, eu quero ter-te a meu lado, diz-me que ficas comigo. "
De entre copo e mais copo, levantei-te, e ajudei-te a andar que já nem a rua conseguias ver com precisão, parei-te num canto e disse amedrontada, antes de me despedir de um último dia de facilidades, " Tem cuidado com o que fazes comigo ", tu abraçaste-me, beijaste-me a testa e disseste com a segurança que ainda conseguias por na voz " Eu só quero ser feliz ".

 " For a drunken mind, speaks a sober heart " , será verdade ?