Abri os olhos e não cheirava a ti. É sina acordar todos estes dias nos lençóis amenos e não ter o teu cabelo preso na fronha da almofada, nem o aconchego do teu corpo nas minhas costas nem o calor da tua mão a tirar-me o cabelo da cara. Sinto-te sempre de olhos abertos quando eu os fecho. Não os sinto, não os sinto nunca, sempre que não estás, que não estou, que não estamos.
Abri os olhos e a tua blusa estava no chão. É ela que me leva a ti todas as noites, leva-me ao teu quarto, ao teu armário aberto no quarto, ao teu perfume no armário aberto, à blusa, de volta à blusa embrulhada com o teu perfume. Sabe-me tão bem. Quão estúpido é querer preencher o vazio da tua presença com um pedaço de tecido. Acho que sou estúpida desde aquele dia quente em que deixámos de viver num mar de rosas. Nunca nos despedimos, já reparaste meu  amor?  Não me soubeste dizer adeus naquele dia, e eu nunca te digo, sempre que volto para longe de ti, prefiro dizer " falamos mais logo ". E quando dizes que me dás o que eu quiser, que só preciso de pedir, eu peço-te o mais dificil, gostar de mim todos os dias.

Capital, a quanto obrigas

Há dias em que é fácil acordar em Lisboa. Há dias como o de hoje. Em que acordo com uma caixa de lenços quase gasta por obra do meu querido nariz. Levanto-me e vou até à cozinha, enquanto tento tratar do pequeno-almoço dou um toque na loiça limpa e uma panela (supostamente limpa) decide cair mesmo em cima da frigideira com óleo e respingar óleo por todo o lado. Depois de tudo limpo, meto o leite na caneca e quando vou para pô-lo no microondas, bato com a mão no dito cujo, arranho-me e leite por todo o lado. Depois do pequeno almoço tomado juntamente com o comprimido para a gripe e banho tomado decido ir adiantando o almoço, e mal toco no fogão deixo um mini recipiente com óleo ( óleo outra vez ) tombar, e óleo no fogão todo. Entretanto a minha mãe liga-me e diz-me para ir pagar a renda, ponho um cachecol ( sim, que o tempo em Lisboa não é o do Algarve ) e saio de casa. No momento em que fecho a porta, lembro-me que a chave de casa ficou em cima da secretária. Ainda com a esperança que o meu irmão estivesse quase a chegar mandei-lhe mensagem, mas para melhorar as coisas só chega depois das 13h, e eu entro às 14h e graças a não sei quem, a minha faculdade fica no outro lado de Lisboa. Já depois da renda paga vou ter ( outra vez ) com a senhoria e peço-lhe a chave, esta entrega-me um balde de chaves e diz " Não sei qual é, tens de experimentar todas ". A minha sorte neste momento é que tenho bom olho e acertei à primeira na chave que experimentei. Com esta brincadeira tive que descer, subir, voltar a descer e voltar a subir as escadas do prédio. Sorte que vivo no quarto andar, são 90 escadas.
Agora já tenho fome outra vez, acho que precisava de outro banho e ainda me espera uma viagem de metro depois de andar 3 semanas no carro da mamã.
E ainda o dia não vai a meio, que medo.